DESENCONTRO NA SALA DE CONSULTA
- crsuzuki
- 3 de jul. de 2021
- 2 min de leitura
É muito comum presenciarmos um desencontro na sala de consulta, entre médicos e pacientes. Longe de dizer que somos médicas perfeitas: relações humanas são sempre únicas, e por vezes o santo não cruza mesmo. Entretanto, invariavelmente chega um paciente no consultório com os olhos vermelhos, inchados, lacrimejando... e com um saquinho CHEIO de colírios:
antibióticos
lubrificantes - vários
corticóides
antibióticos + corticóides
Desesperado!
Doutora, isso não melhora!! Já fui em vários médicos, fico de colírio em colírio, e isso não passa!
Examino, uma conjuntivite. Aqui vai uma dica: 90% delas são virais, ou seja, o antibiótico de NADA adianta e... só piora.
Agora com a covid-19 fica mais fácil entender que quando o vírus entra no nosso corpo, cada um responde de uma maneira. Mas em geral, o adoecimento tem seu tempo demarcado:
vírus na corrente sanguínea sem se manifestar (janela imunológica)
virus se multiplicando (replicação viral)
resposta do nosso corpo ao vírus
E, em muitos casos, não há o que se fazer para alterar esta ordem! A gente precisa é reparar danos, ou seja, ir tratando o que vai aparecendo até que o vírus perca esta guerra.
O que sempre digo: mas como o paciente vai saber disso se ninguém lhe explica?
O desencontro técnico: a diferença entre illness e disease
O caso em que o paciente vai passando de médico em médico, benzedeira, farmacêutico, conversa de amigo que fez assim e melhorou, é um caso típico de desencontro na sala de consulta. Cabe ao médico entender o que o paciente entende do próprio adoecimento (illness) e explicar como é o curso da doença direitinho (disease). Estas diferentes percepções precisam ser alinhadas sempre!
O encontro: fusão de horizontes
Infelizmente estamos num momento em que a conversa perdeu seu sentido de troca. Agora o jogo de opiniões implica em aces (como o famoso texto do Rubem Alves, que nem consigo mais encontrar a citação original de tanto que já foi citado) em "lacrar", em derrotar o outro, e ninguém mais escuta ninguém...
Escuta atenta para o que o outro tem a dizer. Assim como em todas as relações, tentar uma fusão de horizontes: ou uma boa partida de frescobol
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