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"Primum non nocere"

  • Foto do escritor: crsuzuki
    crsuzuki
  • 30 de mai. de 2021
  • 2 min de leitura


"Primum non nocere" "O médico deve... ter dois objetivos, fazer o bem e evitar fazer o mal". Hippocrates

Ou "primeiro, não prejudicar". Este precisa ser um mantra diário que, infelizmente anda perdido por aí. Vamos a mais uma "experiência imersiva"...


D.R., 39 anos, descolamento de retina espontâneo no olho direito, duas cirurgias, agora com a retina colada mas visão de 20%.

No olho esquerdo, em uso de colírio para controlar o glaucoma. Apavorada, com medo de ficar cega (com razão! A gente só percebe a tranquilidade de ter 2 olhos quando perdemos um...)


Em seguida, examinei... examinei...


Finalmente: o olho direito estava muito bem! A cirurgia fora muito bem feita!

E mais: o olho esquerdo estava ainda melhor! Nem sinal de glaucoma. Pressão intraocular normal, nervo óptico lindinho, o calhamaço de exames já feitos totalmente normais, sem familiares com glaucoma... até estranhei o diagnóstico já feito (oftalmologista renomado de SP até!!!).


Suspendi o colírio, pedi que retornasse em 1 mês para reavaliar a pressão. Após o retorno: pressão normal. Em outras palavras: ela não tinha e nem tem glaucoma.


Em tempo: a chance de algum de nós ter glaucoma é pequena: 3 a 5% nas pessoas acima de 40 anos. Antes disso, raríssimo (exceto nas crianças que nascem com glaucoma, o glaucoma congênito). Sem gente na família então, ainda mais raro! Entretanto, é uma das doenças oculares com maior arsenal de exames para se controlar. Esta paciente, a cada 6 meses, deixava uma quantia considerável naquela clínica...


O outro lado do "cuidado excessivo"


Apesar do número de pessoas com planos de saúde ter diminuído, a quantidade de exames aumentou em 40%!!! De acordo com a ANS, entre 2013 e 2018, o número de beneficiários na saúde suplementar reduziu 3% enquanto que as despesas assistenciais cresceram 80%!


Tem coisa estranha aí, não?


Atualmente ando numa fase revoltada mesmo: frequentemente observo pacientes com cirurgias desnecessárias, exames desnecessários, doenças inexistentes... Pode se chamar tudo isso de excesso de cautela? "Melhor pecar por excesso do que pela falta?" Ou será que um bom cuidado implica num bom e minucioso exame físico, anamnese criteriosa, e principalmente um comprometimento mútuo pela saúde e bem estar?


Um suspiro de conscientização: escolha inteligente


Na contramão destes absurdos, felizmente alguns movimentos pela prática legítima estão surgindo!


Dentre eles, a Choosing Wisely® é uma iniciativa da ABIM Foundation* para estimular profissionais de saúde e pacientes a:

  1. Conversarem mais apropriadamente sobre o uso correto e no momento adequado, de exames diagnósticos e intervenções em saúde – evitando procedimentos desnecessários e que podem causar lesão.

  2. Fazerem escolhas mais ‘corretas’ e efetivas no processo de cuidado em saúde.

Deste modo, em 2012, o American Board of Internal Medicine iniciou nos Estados Unidos a campanha Choosing Wisely. Em outras palavras, "usando de sabedoria nas escolhas” ou “escolhendo sabiamente”.


Tempo, tempo, tempo...


Deeeesde a faculdade, sempre aprendemos: não tratamos o exame, tratamos a pessoa (assim pra que tanto exame subsidiário?). Infelizmente, essa premissa acaba se perdendo com o tempo... principalmente em tempos de crise econômica.

Ou seja: é tempo de mudar isso, com o comprometimento mútuo entre médicos e pacientes.


Para ler mais:


Jonas JB, Aung T, Bourne RR, Bron AM, Ritch R, Panda-Jonas S. Glaucoma. Lancet. 2017 Nov 11;390(10108):2183-2193. doi: 10.1016/S0140-6736(17)31469-1. Epub 2017 May 31. PMID: 28577860.

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