Sobre a Ciência
- crsuzuki
- 6 de dez. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 15 de jan. de 2021
Acho que nunca a Ciência teve um protagonismo tão gigantesco quanto nesta pandemia! Uma sensação de que a vida saiu dos trilhos, sem avistar sequer sombra deles. Imersos nesta corredeira, procuramos algo para nos agarrar e assim tentar reassumir as rédeas do dia a dia. E adoramos nos agarrar no discurso científico: ele foi eleito por nossa sociedade para qualificar quais eram os objetos dignos de saber, e quais excluir. Afinal, com todo o arcabouço metodológico rigoroso, não lhe resta nada além da verdade! Mas perceba: esta verdade está sempre mudando! Cada descoberta coloca por terra o que antes acreditávamos como verdadeiro. Ao tentar conhecer este vírus danado, presenciamos em meses o que a Ciência faz constantemente. Não espere dela o conhecimento verdadeiro fixo e imutável, e sim seu rígido compromisso com a verdade. E daí começa a confusão. Confundimos estes episódios verdadeiros que podem mudar assim que descobrimos algo diferente, com verdade absoluta ou dogma! Daí o perigo de ter este conhecimento mutável como crença e salvação. Vamos além? E quando alguém cita o conhecimento como científico, sem ter sido originado por todo o rigor metodológico que é exigido? Como separá-lo das... opiniões? Como separar nossa vontade de verdade, da verdade de fato? Isso vai ainda além, e chega a ser criminoso, quando exercido em quem produz e pratica a Ciência, no nosso caso, na Medicina. Vamos sair um pouco da COVID - "ninguém aguenta mais esse assunto!" - e passar para a CONFUSÃO que se fez sobre a vacina e autismo, à partir de um trabalho bem mal intencionado de um cara chamado Andrew Wakefield, publicado (tanto o artigo quanto a retratação) na famosa Lancet. Ele forçou a barra para que os dados de sua pesquisa dissessem justo o que ele pensava: "a vacina para MMR (tríplice viral para sarampo, rubéola e caxumba) leva ao autismo". Desde então, apesar da constatação de sua falsidade, o estrago foi feito: muitos pais, principalmente entre os mais instruídos, se recusam a vacinar seus filhos. Obviamente este movimento anti-vacina reune um mundo de confusões além desta, mas fica para outro post. Por enquanto... clique 1x abaixo para uma experiência mais imersiva
vale a reflexão citada por Michel Foucault numa resenha feita para Jacques Rufflé, biólogo que desmistificou o conceito biológico de raça: “em vez de valer-se do que sabe como pretexto para dizer o que se pensa, ele (o Jacques) interroga, ao contrário, o que se pensa a partir do que ele sabe” É isso aí! Para ler mais sobre: Foucault, M: Bio-história e Biopolítica. Ditos e escritos VII, 2011 p 399-401Godlee, F; Smith, J; Marcovitch, H: Wakefield's article linking MMR vaccine and autism was fraudulent. BMJ 2011 DOI: 10.1136/bmj.c7452
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